Vossa Sou

Celebrando a vida de Santa Teresa, gostaria de partilhar um dos poemas dela. Para mim, esse poema é o mais lindo de todos. Ô coisa linda é um coração rendido a Deus! Que pela graça Dele, o nosso também seja assim.
“Soberana Majestade, e Sabedoria Eterna, Caridade a mim tão terna, Deus uno, Suma Bondade, olhai que a minha ruindade toda amor, vos canta assim: Que mandais fazer de mim? Vossa sou, pois me criastes. Vossa, porque me remistes. Vossa, porque me atraístes e porque me suportastes. Vossa, porque me esperastes e me salvastes por fim: Que mandais fazer de mim?
Que mandais, pois, Bom Senhor, que faça tão vil criado? Qual ofício me haveis dado, a este escravo pecador? Amor Doce, Doce Amor, vede-me aqui fraca e ruim: Que mandais fazer de mim? Eis aqui meu coração, deponho-o em vossa palma. Minhas entranhas, minha alma, meu corpo, vida e afeição. Doce Esposo e Redenção, a vós, entregar-me vim: Que mandais fazer de mim?
Morte daí-me, daí-me vida, saúde ou moléstia daí-me. Honra ou desonra mandai-me. Daí-me paz ou guerra sem fim. Seja eu fraca ou destemida, a tudo direi sim: Que mandais fazer de mim? Daí-me riqueza ou pobreza, exaltação ou labéu. Daí alegria ou tristeza. Daí-me inferno ou daí-me céu. Doce Vida, Sol sem véu, pois me rendi toda enfim: Que mandais fazer de mim?
Se quereis, daí-me oração. Se não, daí-me soledade. Abundância e devoção, ou míngua e esterilidade. Soberana Majestade, a paz só encontro assim: Que mandais fazer de mim? Daí-me, pois, Sabedoria ou, por amor, ignorância. Anos daí-me abundância ou fome e carestia. Daí-me treva ou claro dia, vicissitudes sem fim: Que mandais fazer de mim?
Se me quereis descansando, por amor o quero estar. Se me mandais trabalhar, morrer quero trabalhando. Dizei: onde? Como? quando? Dizei, Doce Amor, por fim: Que mandais fazer de mim?
Daí-me Calvário ou Tabor, deserto ou terra abundante. Seja eu como Jó na dor, ou João sobre o peito amante. Seja uma vinha luxuriante ou, se quereis, vinha ruim: que mandais fazer de mim?Ou José encarcerado ou José Senhor do Egito. Ou Davi sofrendo aflito, ou Davi já sublimado. Ou Jonas ao mar lançado, ou Jonas salvo por fim: Que mandais fazer de mim?
Já calada, já falando, traga frutos ou não traga. Veja eu na lei minha chaga, ou goze Evangelho brando. Quer fruindo, quer penando, sede a minha vida, enfim! Que mandais fazer de mim?
Pois sou vossa e Vós meu fim: que mandais fazer de mim?”(Sta. Teresa D Ávila)
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