Uma Quaresma de Verdade
Tenho lido e refletido muito sobre a vivência da Quaresma
nos dias de hoje. Além da belíssima mensagem do Papa Francisco, de frases,
palestras e partilhas de irmãos, tenho tentado rezar mais e ouvir, de verdade,
como posso amar mais e me unir mais a Deus nesse tempo. Em outros tempos, de fato, era mais fácil
viver a Quaresma com um “plus” de piedade, penitência, cuidado, afinal, tudo em
volta favorecia: as mídias, as escolas, os pais, os avós, as tradições tão
criticadas, mas tão edificadoras de valores cristãos... Deixar de comer
chocolate, deixar de tomar refrigerante ou de deixar de passar a manteiga no
pão eram atos quase “normais” nesse período, afinal, valia tudo para ser mais
santo e, quando se é mais jovem, todos os sacrifícios parecem mais possíveis de
serem realizados por amor. Generosidade e radicalidade de corações jovens
encontrados por Deus. Enfim, eramos convidados a mergulhar no Mistério de
Cristo com mais profundidade e apresentados a Ele com maior frequência. Hoje,
realmente, o esforço é maior para conseguir acompanhar Jesus no deserto,
guardar o coração no silêncio do Mistério e não deixar-se levar pela correria
dos dias, pelo barulho dos afazeres e pelas “vozes da carne que clamam em nós”,
como diz um hino das Laudes. Mas toda essa dificuldade, ao meu ver, parece dar
um impulso novo a esta vivência, porque se por um lado ficou mais difícil, por
outro ficou mais “fácil”. Explico-me. O verdadeiro cristão está mais sedento de
silêncio, frente aos barulhos dos dias. Ele está mais penitente, frente às
dores do coração do homem que está mais sofrido. Ele está mais unido ao
Mistério, frente ao mistério de um mundo que se perdeu de Deus. Ele está mais
decidido pela santidade, diante de um tempo que não sabe mais o que isso quer
dizer. O motivo dessa mudança? Simples: se ele não estiver mais silencioso,
mais penitente, mais unido a Deus e decidido pela santidade nos dias de hoje,
ele não consegue mais ser cristão. Se hoje não damos tudo a Deus, não conseguimos
dar nada. Exigência de um tempo
que, ou nos faz crentes de verdade, ou descrentes de tudo. O cristão que ama a
Deus está vivendo uma grande Quaresma, uma Quaresma de verdade, que o levará de
fato para uma vida nova junto ao Ressuscitado que passou pela Cruz, de uma vez
por todas e para sempre. E é essa Quaresma que eu quero e preciso continuar a
viver, com a graça de Deus “que não se cansa de perdoar, nós é que nos cansamos
de pedir perdão”, disse um homem Santo, simples e humilde que descobriu bem
antes dessa Quaresma o caminho para o coração de Deus.
Santa Quaresma a
todos!
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