As Migalhas da Paixão




Em cada pequeno passo possível.  Vivendo uma espera por dia.  Na ciência de padecer um branco martírio, na pobreza de uma migalha por vez. Colhendo os grãos de uma paixão, que lenta, ensina o valor do escondido e desconstrói o ímpeto quase heroico do “tudo de uma vez”.

São as dores da paciência que só o tempo ensina a colher os frutos. São os caminhos das pequenas ofertas, que só os santos suportam viver. O melhor seria dar logo tudo, viver logo tudo, conseguir logo tudo, para melhor amar a Deus. Desejo lícito de um coração que ainda não aprendeu a sofrer pelo que vale sofrer.  

Mas a ciência para os fracos é o padecer a pobreza de cada passo, a fraqueza de quase nada conseguir, de parecer não sair do lugar e, mesmo assim, prosseguir no caminho, no abandono de uma obra que só Ele sabe como será feita e quando será concluída. É o abandono da pequena via, que sendo estreita, alarga o amor, esmaga o orgulho e aumenta o fervor.  

É a perseverança que confunde o forte e abraça o fraco que, por amor, aprendeu a não desistir após tantas quedas. Repetidas quedas.  É a estrada do “respira fundo e continua” porque Deus não desistiu de ti.  É o caminho das lágrimas, do arrependimento e do perdão. É um dia de cada vez. É esperar o dia seguinte para tomar alguma decisão, ou mesmo, não fazer nada, na espera humilde e confiante “até quando Ele quiser”... É a vereda do silêncio que, por vezes, “dói na alma”. Ao mesmo tempo, quando em Deus, traz a paz.  É a firmeza do ferido, que permanece combatendo. É esperança cega do que decide confiar somente em Deus. Em Deus, somente.

São as migalhas da paixão que só o pobre de coração é capaz de viver com esperança, juntando-as como tesouros, sabendo viver com gratidão e sem resistência o que precisa ser vivido. Sem questões. Sem revoltas. Com simplicidade. Com amor. Com Ressurreição diária, mesmo em migalhas.  É a ciência do recomeço. É o extraordinário no ordinário. É a vida em Deus. É “caminho de e para a felicidade”, é Obra Nova, é Amor Esponsal. É Santidade. É “Sim, Pai, não é fácil, mas eu desejo, eu quero e eu vou. Amém.”.

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