Sábado Santo: o grito por silêncio



Passou a sexta. E que sexta santa! Mas a dor dilacerante parece que já foi vencida pelo cansaço e pela solidão. A ferida ainda está aberta, mas coberta pelo lençol do tempo. Logo chegará o domingo. O Grande Domingo! A ressurreição vai transformar tudo, e o coração voltará a bater. Tudo vai recomeçar… mas no meio havia um sábado.  E é sobre esse sábado que eu quero falar.

O Sábado Santo pode até passar despercebido entre dois grandes mistérios. Mas é no sábado que nos recuperamos da dor e nos preparamos para a alegria.  É no sábado que aprendemos o silêncio e a espera, de um coração sofrido que continua a crer. É no sábado que Cristo nos prepara para a Sua vitória.

Parece que essa preparação em nossa vida saiu de moda. Tudo é vivido tão rápido, tão ligeiro! A resposta tem que estar pronta, o discernimento feito! Pronta entrega de decisões! Ah se houvesse um sábado no meio! A graça de viver o luto, a dúvida e até o medo. A alegria de ter o que antes muito se esperou. O sabor do fruto da prova, que mais doce ficou.

Esse dia é uma descida à mansão da nossa morte, em tudo aquilo que parece adormecido e sem solução.  É o dia daquele que não perdeu a esperança de ser santo, mesmo que a obra esteja inacabada e longo seja o caminho. É o dia daquele que silencia, mesmo tendo tanto a falar. É o dia daquele que cala, para não ferir o coração de Deus. É o dia do “quando sou fraco, aí é que sou forte”. É o dia daquele que sabe que, cedo ou tarde, contra tudo e contra todos, Ele virá.

Sábado é o dia daquele que foi humilhado pela Santíssima Vontade de Deus, e que permanece nela, por saber que ela sempre é o melhor lugar. É o dia do discípulo que se sente sozinho, mas que continua a confiar no seu Senhor. É o dia das promessas ainda não cumpridas. É o dia daquilo que não se consegue explicar. É o dia de quem abraçou o mistério de viver, mesmo sem entender.

Sábado é o dia do silêncio. Um silêncio que desaprendemos a ouvir. O silêncio por quem grita a alma, cansada de tantas vozes que querem conduzir. É o dia em que a alma sofre, se inquieta, mesmo sem sair do lugar. Porque o sábado é o dia de permanecer em Jerusalém.

Sábado, literalmente, é o dia de Maria. Aquela que tantos sábados, silêncios e esperas viveu. Ela que mesmo na certeza da ressurreição, tantas vezes, o mistério da espada no coração sofreu. Sábado é o dia de levar Maria para nossa casa e com ela aprender a esperar. Sábado é o dia que em meios as suas lágrimas, a esperança não deixa de estar. Quantos sábados, realmente santos, você vive ou viveu? Esse dia é tão sublime, que como Maria, parece que se escondeu. Que o mistério desse dia nos prepare, dia após dia, para com Cristo sofrermos, para com Cristo ressuscitarmos.

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