O Caderno de Oração



Quando fui rezar hoje, percebi que estava na última folha: o caderno de oração acabou. Uma nostalgia boba, melancolia anormal para uma colérica sensível! Enfim, fui me despedindo daquele mundo próprio de registro de encontros. 

Tanta alma em cada linha, e milhares de outras coisas que não cabem em palavras. Tinta borrada com lágrimas, rascunhos de desejos, tentativas de traduzir experiências, garranchos indecifráveis de mistérios que permanecem em espera...

Promessas, Palavras, brigas (muitas!) e segredos. Ah! Os segredos! Entendimentos e silêncios. Quantos silêncios, mesmo os escritos. Pausas, espaços, dias intensos e dias "pulados" pelas datas, que vão dando ritmo ao leitor único de tanta riqueza. 

Na era do digital, o papel que resiste e que tem cheiro; odor de vida e de tempo. Memórias vivas de um caminho. A vida interior contada "de dentro". Narrativa privilegiada do encontro diário da criatura com o Criador. Quanta graça! 

Escrever para Deus, escrever sobre a ação de Deus: registro diário de um encontro, bilhetes direcionadores de amor, lembretes amorosos do rumo a seguir. 

As páginas findam, os cadernos acabam. Mas a história continua. E ainda bem que há novos cadernos, há novas páginas e novos relatos de uma única e irrepetivel relação de amor.  E vem aí um novo caderno, um recomeço.


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