A Barca é Presépio


 

Diferente. Um natal diferente, análogo a um ano que nunca imaginaríamos viver. Se começamos sendo lançados ao mar bravio, é fato que, para a maioria, o porto ainda não foi avistado.  A tempestade que, ao entardecer, “desmascarou a nossa vulnerabilidade”, nos deixando “frágeis e desorientados”, nos trouxe assim a um outro tempo, nos trouxe aos pés do Senhor que também dorme, mas dorme como um pequeno e manso menino. 

A voz que acalmou o mar e cessou o vento, agora chora.  O choro de um amor encarnado que se une a nossa humanidade de maneira plena, assumindo também o nosso pranto.  Lágrimas de um Deus que ama, que se importa, que docemente se abaixa, para nos encontrar em nossa fragilidade.  Nossa fragilidade que foi involuntária e bruscamente exposta, desnudada pela dor; enquanto a Dele foi assumida de maneira voluntária, para nos salvar da morte.

É também em um entardecer que Ele chega, na verdade, em uma noite.  Lugar propício para a ação de Deus. Lugar onde a esperança é gestada. Onde a luz pode ser vista, onde a Estrela pode brilhar mais forte. Noite que precede o amanhecer. Cruz, ressurreição. Noite da encarnação, da recriação, do novo começo, do recomeço, noite feliz!

O mar agitado se tornou a falta de lugar em Belém. A tempestade se transformou no longo caminho para chegar até lá.  Desse modo, a barca é presépio. E no presépio, unidos a Maria, a José, aos Pastores, aos Reis Magos, aos Anjos e, até mesmo, aos animais da estrebaria, não há lugar para o medo.  É o Menino Deus, nesse natal, que chega para acalmar a tormenta de nossa alma e reascender a nossa fé.  O silêncio é de Adoração.  No coração, sem precisar acordar o Menino, sua Presença já nos diz: "Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?". 

Feliz Natal!

 
 
*Texto baseado no Evangelho de Mc 4, 35-41 e inspirado na homilia do Papa Francisco de 27 de março de 2020 (link: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2020-03/papa-francisco-homilia-oracao-bencao-urbe-et-orbi-27-marco.html).

 

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